VISÃO APOSTÓLICA

    

VISÃO APOSTÓLICA


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Uma Visão de Obreiros Apostólicos Hoje em Dia


Por David Kornfield


 


“Assim, na igreja, Deus estabeleceu, primeiramente apóstolos . . .” (1 Co 12.28).  Jesus Cristo “deu dons aos homens. . .  e ele designou alguns para apóstolos. . .” (Ef 4.8, 11).  A igreja está edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas” (Ef 2.20).  Segundo o Novo Testamento o dom apostólico é o chamamento mais importante para a edificação da igreja.  Será que este dom ainda existe?  E se existe hoje em dia, que impacto poderia ter para a igreja recuperar sua plena saúde e vocação? 


Os doze apóstolos ocupam um lugar único (Lc 22.30; At 1.21, 22; Ap 21.14).  Ao mesmo tempo, que a obra apostólica continua hoje pode ser comprovada em três formas básicas: nas escrituras, na história e na necessidade de sua função hoje em dia.


1. Nas Escrituras:  Ef 4.8, 11 indica que Deus deu aos homens o dom apostólico depois que Cristo subiu ao Pai, e desceu, depois de haver nomeado os doze apóstolos.  Com base nesta passagem reconhecemos os ministérios de evangelista, pastor e mestre.  Por que não reconhecer também os ministérios de apóstolo e profeta que são tão essenciais para colocar boas bases na igreja (Ef 2.20)?  Um estudo do Novo Testamento indica que havia várias outras pessoas além dos doze que foram reconhecidas como apóstolos, como Paulo e Barnabé (At 14.4, 14), Silvano e Timóteo (comparando 1 Ts 1.1 com 2.7), Tiago o irmão de Jesus (Ga 1.19), Apolo (comparando 1 Co 4.1, 6a, 9).  Outros chamados mensageiros (Grego: apostolos) incluem Epafrodito (Fp 2.25), Tito e dois outros irmãos (2 Co 8.23,24).


2. A história:  No segundo e no terceiro século o dom apostólico foi reconhecido.  Tomou forma mais localizada ao invés de itinerária com o passar do tempo.  Calvino reconheceu tal chamado e hoje em dia não é raro ver artigos sobre esse tema, geralmente em revistas missiológicas. 


3. Sua função:  Ef 4.11-13 indica que o dom apostólico seguirá “até que todos alcancemos a unidade da fé. . . e cheguemos a maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo”.  Até hoje, este alvo não foi alcançado; não será completado até a segunda vinda de Cristo.  Existe necessidade de ainda estabelecer novas igrejas?  Necessita-se ainda de colocar fundamentos adequados para a igreja?  É óbvio que a função apostólica ( traduzida no latim como missionário ) continua sendo muito necessária hoje.


O que é um obreiro apostólico?[1]  Obreiros apostólicos são pessoas enviadas e habilitadas para comunicar as boas novas do reino de Deus resultando na formação de igrejas com fundamentos doutrinários e governamentais (pastores e/ou anciãos) firmes.  Jesus, o apóstolo principal (Hb 3.1), foi enviado a este mundo para anunciar o reino de Deus (Lc 4.43; Mt 4.23; 9.35).  Os doze apóstolos, os setenta e todos os envolvidos na tarefa missionária na Bíblia seguiram com a mesma mensagem (Mt 10.1-8; Lc 10.1, 2, 8-11; At 19.8; 20.25; 28.23, 31).  Se isso fosse tudo, poderia dizer que um apóstolo não é nada mais que um evangelista.  Porém, a obra apostólica parece ter uma função formativa de estabelecer novas igrejas (At 14.23; 1 Tm 3.1-8) e/ou “colocar em ordem aquilo que carece” em igrejas já estabelecidas (Tt 1.5).


Eu enxergo dois tipos de obreiros apostólicos (enquanto que algumas pessoas limitam o chamado a apenas um dos dois):


A.     Aqueles dedicados à implantação de igrejas.  (Alguns dizem que este chamado apenas funciona entre povos não alcançados.) 


B.     Aqueles que se dedicam a dar cobertura a um grupo de pastores ou igrejas, supervisionando e procurando fortalecer os alicerces das igrejas tanto na área de ensino quanto na área de apoiar e equipar os pastores e líderes.  Diversos líderes da igreja nos primeiros séculos, como também historiadores da igreja, indicam que a função e chamado apostólico passaram a ser expressados através dos bispos da época.


A seguir vem uma descrição de algumas das funções e possíveis características de um obreiro apostólico maduro.  Essas características surgem de um estudo dos dons apostólicos como demonstrado em Paulo e em outras pessoas.  A lista não é definitiva.  Ainda precisa ser discutida e refinada.  Nem todos vão concordar com cada característica. 


 


Além disso, precisamos reconhecer que existe bastante diversidade entre obreiros apostólicos.  A lista abaixo reflete mais o Paulo, mas ele foi bastante diferente do Barnabé, o apóstolo encorajador, que a sua vez foi diferente do Pedro, o apóstolo aos judeus e João, o apóstolo do amor.


 


Certas destas características tendem a se expressar em pastores também.  Isto é natural e lógico se estivermos falando de alguém que supervisiona ou pastoreia pastores.  Igual como um pastor tende a ter uma graça maior do que a maioria dos membros da igreja quanto a visão, liderança e a multiplicidade de dons, assim o obreiro apostólico normalmente precisa se destacar nestas áreas em relação aos pastores que ele lidera. 


 


Uma pessoa chamada a começar novas igrejas ou colocar fundamentos nas igrejas existentes, não tem necessariamente todas essas características, mas creio que Deus lhe dará a maioria e ele estará crescendo nas demais enquanto procura amadurecer em seu chamado.


 


Um obreiro apostólico parece ter características e funções como as seguintes:


1. Tem uma visão do reino de Deus que é mais ampla que a maioria das pessoas (Veja, por exemplo, a paixão do Paulo quanto ao reino em Atos 17.6, 7; 19.8; 20.25; 28.23, 31).


2. Tem uma visão da igreja, estando apaixonado pela visão de Jesus Cristo pela sua igreja (Por exemplo: a visão de Paulo no livro de Efésios ou a visão de João, no livro de Apocalipse).


3. Sabe como colocar bases tanto em forma teológica, como em forma governamental para uma igreja (1 Co 3.10, 11; Ef 2.20).  Enfoca teologia aplicada mais que a acadêmica (Tt 1.1; 2.1ss, especialmente v. 10).


4. É um mestre da arquitetura da igreja, não do edifício, mas sim do corpo de Cristo.  E tem uma visão do esquema completo, o que se necessita desde o começo até o final, não somente enfocando um ministério específico (1 Co 3.10). 


5. Pensa de forma estratégica, desenvolvendo modelos, estruturas e líderes que se reproduzem.  Isto é uma extensão da qualidade de ser arquiteto da igreja, aplicando isto a nível local como a nível extralocal.


6. Tem uma visão para a unidade dentro de qualquer igreja e entre igrejas (Ef 2.14-19; 1 Pe 2.9).


7. Trabalha em equipe, atraindo outros para sua visão e seu compromisso pessoal a eles num discipulado (At 11.25; 18.4, 5; 20.4, 5; 2 Co 2.12, 13).  Uma equipe apostólica inclui pessoas com chamado extralocal que não tem chamado apostólico.  Podem ser profetas, evangelistas, pastores ou mestres.  Mas o líder da equipe normalmente terá um dom e chamado apostólico.


8. Está baixo autoridade e tem autoridade (Mt 10.1; 2 Co. 10.1-6).  Não domina os outros, mas serve de uma maneira que ganhe sua confiança para dar-lhes o desejo de segui-lo (1 Ts 2.6-12).  Tem entendimento quanto aos propósitos de Deus que outros podem reconhecer e seguir com confiança.  Sua submissão a autoridade dá a outros confiança em poder submeter-se a ele.


9. Tem bastante habilidade de treinar (equipar) outros (Ef 4.11, 12).  Não faz o ministério tanto quanto ensinam outros a fazê-lo.  Mais que tudo enfoca o treinamento dos líderes da igreja (anciãos, pastores etc) (Fp 2.19-29; 1 Tm 3; Tt 1.5ss).


10. É muito dotado.  Não tem somente um ou dois dons, senão um bom número.  Pode fazer muitas coisas bem.


11. Está dedicado à palavra e à oração (At 6.1-4).  Isso é uma característica de tal pessoa e também uma necessidade para realizar seu chamado.  Porque sem isso as demais características decaem.


12. Brilha em crises.  Quando há muitos problemas, lutas e tensões sabe como resolver a situação para a glória de Deus.  (Veja por exemplo, as cartas de Paulo às igrejas de Galácia, Corinto e Tessalônica).


13. Pastoreio de pastores, como nas cartas de Paulo (1 e 2 Timóteo e Tito).  Ele tem uma graça especial para assessorar (mentorear) pastores e para orientar eles de forma interdependente em sua vidas e ministérios.


 


14. É líder pioneiro.  Ele abra novo território, seja abrindo novas igrejas, escrevendo novos livros ou iniciando novos projetos.  Tem uma certa dificuldade em apenas ser parte do projeto de outra pessoa, ou manter no dia a dia a administração de um projeto ao longo prazo, até algo que ele mesmo iniciou.


 


15. Demonstra graça sobrenatural, sendo através de sinais, maravilhas e milagres (2 Co 12.12) ou através de discernimento, sabedoria, profecia ou outros dons espirituais.


 


16. Grande perseverança (2 Co 12.12).  O obreiro apostólico maduro se entrega a relacionamentos e um projeto do reino ao longo prazo.  Desenvolve relacionamentos comprometidos e saudáveis ao longo prazo e tem uma visão ministerial duradoura. 


 


Algumas preocupações práticas e implicações deste artigo são tratadas em outro documento com título Obreiros Apostólicos Hoje – Algumas Preocupações e Implicações


 


 


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[1] Faço uma opção de usar o termo “obreiro apostólico” por dois motivos: 1) claramente diferenciar estas pessoas dos Doze, deixando claro que não tem a mesma autoridade ou papel deles; e, 2) enfatizar que é uma função e chamado, e não um título.